Se fosse um percurso sem paragens, não demorava mais de 10m. Era esta a distância da casa da minha mãe até à escola primária, mas pelo meio existiam três papelarias. Duas a caminho, uma outra mais afastada. Numa bela manhã deparei-me com um jogo na montra que me chamou atenção. Subbuteo, era assim que se chamava. Namorei aquela montra durante vários dias, não sei porquê mas tinha a noção que poderia ser caro e tive vergonha de perguntar à “Dona Ana” quanto é que custava.
Passado algum tempo perguntei: 5.000$00. Engoli em seco. Muitas pessoas que leem este blog, não se lembram do Subutteo, nem tão pouco dos escudos, por isso vai a conversão: 25€, na moeda atual, mas o valor atual de um Subbuteo básico ronda os 50€.
Foi difícil, mas a minha querida mãe lá fez um esforço e comprou-me o jogo. A minha vida estava prestes a mudar. Como fanático por futebol ter um jogo em que o futebol é retratado ao pormenor em peças minúsculas e onde se podiam fazer inúmeros espelhos da realidade era, no início dos anos 90’, algo verdadeiramente fascinante.
Duas equipas, duas balizas, duas bolas, seis bandeirolas de canto e um tapete verde a imitar o relvado de um campo era o que continha o kit. As equipas que vieram no conjunto original eram o Coventry (100% de certeza) e o Aston Villa (70%), mas foram muito rapidamente substituídas. Na altura existia uma papelaria mais a sul da casa da minha mãe que tinha tudo o que era acessório para o Subbuteo. Estava viciado.
A primeira equipa a ser comprada foi o Benfica, mais tarde azuis e verdes. Grandes derbys e clássicos fiz eu. Lembro-me de empilhar livros para fazer a bancada e essas bancadas eram compostas por bonecos que fazia nas cartolinas para fazerem de claque. Fiz faixas, bandeiras, lençóis e o mais engraçado é que tinha sempre uma caixa de fósforos ao pé das bancadas…para quê? Eram as tochas. Sempre que as equipas entravam em campo ou havia um golo, acendia uma tocha, perdão, um fósforo. O walkman estava sempre ligado a duas colunas portáteis pequenas para dar aquele som ambiente. A cassete era sempre a mesma, um vizinho mais velho deu-me uma tape que tinha vários cânticos ingleses e era isso que eu usava durante os jogos. Nos cantos tinha aqueles candeeiros que se usam para iluminar as secretárias a fazer de holofotes. Recordo-me que cortava a publicidade das revistas para colocar à volta do campo para dar mais realidade ao jogo. Comprei autocarros para imitar a deslocação das equipas, hoje em dia existem réplicas dos autocarros oficias das equipas, se naquela altura existisse isso, meu Deus!
O vício era tão grande que todos os meses comprava algo novo. Nunca menos de 500$. Comprei bolas adidas Tango, taça dos campeões eurpeus, taça de Portugal, marcadores de canto, lançadores, balizas com a estrutura tipo P e mais acessórios que não me lembro.
Um aspeto que nunca me esquecerei foi a seleção do Brasil. Todos os jogadores eram de pele mais escura. Brutal. Mais tarde comprei a dos Camarões, em representação da grande África. Também tive Portugal, Espanha e a Bélgica, que se bem me lembro era o equipamento mais bonito, a par dos Camarões.
Mais tarde vieram as remodelações. Ou comprava-se equipas cruas e depois pintávamos à mão, ou então pintava-se por cima das já existentes. Os bonecos eram muito frágeis e partiam-se com facilidade por isso era normal uma equipa ter um jogador com cola ou fita-cola. Esse era o lesionado.
O Subbuteo tem algumas regras, hoje em dia variam de país para país, mas regra geral só se pode impulsionar o jogador com aponta do dedo, só se pode rematar após a linha de remate (que também é a linha do fora-de-jogo) e o atacante só pode dar um máximo de três toques sucessivos na bola com uma figura. Após o terceiro toque a bola deve tocar ou ser tocada por outro jogador, mas há mais, como a falta, os livres, os penaltis mas para isso podem consultar o Google.
O Subbuteo foi um jogo que marcou a minha infância, infelizmente só me resta o campo, não faço a mínima ideia por onde andam as minhas equipas e todos os meus acessórios. Passei muitas horas à volta desde jogo de mesa e é curioso ver que hoje em dia muitos usam o boneco para caraterizar os Casuals, ou velhas maneiras. Se hoje em dia há o FIFA 2013/14 na década de 90’ havia o Subutteo.
Ahaha.. boa recordação.
ResponderEliminarNostalgia
Eliminarboas, tb fez parte da minha infancia e dps de mts anos, gora tenho 43 o subbuteo voltou pra mim, em Lisboa e Porto joga-se subbuteo em clubes e competem, o mundo do subbuteo atualmente é uma modalidade com camp. mundiais individuais e por clubes.
EliminarBrilhante Texto ...
ResponderEliminarBrilhante jogo!!
Obrigado. Era craque!
EliminarGrande jogo!
ResponderEliminarGrandes tempos!
Grande post!
Previamente ao Subbuteo joguei ainda um jogo de futebol de mesa muito mais rudimentar mas no qual rapidamente me viciei.
Os jogadores eram uns bonecos de plastico assentes numa base.
E com essa base pressionava-se a bola, em genero de botão, que tinha as duas faces com diferentes funções: de um lado ia rasteira e com força e do outro bola alta e em jeito.
Havia duas equipas: uma de jogadores totalmente vermelhos e outra de jogadores totalmente azuis. Os guarda redes eram ambos pretos.
Fazendo uma pesquisa pela net, eis que o encontrei (igual) no olx.
Curioso, passado tanto tempo...
"Futebol de mesa - um jogo emociante Majora" é o nome.
Depois do Subbuteo vieram as então novas tecnologias com o spectrum 48k e posteriormente 128k que deram início aos primeiros derbys e clássicos virtuais.
Pelo meio o Itália 90 da Sega também marcou.
E o primeiro FIFA EA Sports de 93, em que os jogadores ainda não tinham (por questão de direitos) o verdadeiro nome, surge ainda como uma referência pessoal.
Mas voltando aos jogos de futebol de mesa há um que subsiste e perdura: os eternos matraquilhos.
É um exemplo vivo de que o "old style" combina com o presente.
Cumps
Obrigado!
ResponderEliminarTenho uma vaga ideia de um jogo desses, mas temo não estar a falar do mesmo que tu. O que eu me lembro veio depois do subbuteo.
No que diz respeito aos jogos de computadores (nunca fui grande fã, preferia a rua), Sensible Soccer, Butragueño e Championship Manager faziam perder algumas horas, no meu 128k+2.
Matrecos, imortal. Cheguei a faltar às aulas na faculdade para jogar matraquilhos…
Nós é que estamos velhos mate, abraço!
Fodas que post brutal... Perdia horas e horas ao dia a jogar Subbuteo sozinho, mas só começou quando me ofereceram o placard e uma quantidade incontável de nomes de equipas para colocar no placard. Cheguei a fazer campeonatos inteiros de 34 jornadas, para cada equipa tinha uma táctica personalizada de ataque numa sebenta daquelas de aprender a escrever (daquelas que têm mais linhas...)! Corria festejava vibrava a colocar os jogadores, santa senhora minha mãe que quando eu não estava em casa me passava a ferro o campo! Até aquelas vedações comprei só pra dar um aspecto mais british quando jogava com equipas inglesas!
ResponderEliminarDepois andei um tempo a pintar os bonecos à Sporting, cheguei a comprar 6 ou 7 equipas até acertar com o verde e com as linhas da camisola, mas ainda hoje tenho tudo guardado para o meu puto, que ainda não tem idade mas que quando lá chegar me hei de sentar com ele a jogar...
Boas memórias
abç
Que grande vício!
Eliminarboas amigo, se fores de Lisboa ou Porto ha clubes onde podes jogar subbuteo e levar teu filho pra ver e ganhar o "bichinho"
EliminarExcelente texto,
ResponderEliminarde momento só sei das balizas e cheguei algumas vezes a jogar na relva só que não dava jeito nenhum, não interessa, era relva ! a verdade é que nao cheguei a jogar mto tempo até porque o elifoot2 não o permitia.
NM
Eliffot, como é que me esqueci disso!
EliminarMuito bom! Tenho a vaga ideia que quando me deram a mim, vinha também uma revista com os equipamentos todos que havia á venda...quase tudo equipas inglesas...delirei! acho que decorei todos...
ResponderEliminarabc