quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Mais um dia da minha vida


A tosse do pequeno antecipa a alvorada que estava agendada para cinco minutos mais tarde e, àquela hora da manhã, cinco minutos fazem muita diferença. Fui vê-lo, ao pequeno, e com as suas aventuras noturnas está quase sempre desprovido de abrigo. Fiz o clássico, puxei o édredon para cima e sai pé ante pé do quarto mais infantil da casa.  Segui a minha rotina matinal realizada entre o despertar , o frio e o automático dos movimentos.

O banho tem esse efeito mágico de rejuvenescer a alma e trazer algum sorriso para mais um dia laboral. Um dia de inverno, com a chuva a espreitar e com longas horas de trabalho pela frente. Tudo é feito com alguma rapidez para quando o pequeno acordar estar cem por cento disponível para ele, mas na maioria das vezes isso não é possível.

Relaxo um pouco quando me sento na cozinha a comer o meus cereais e com os olhos pregados nas noticias da manhã. É o único momento do dia em que vejo televisão e àquela hora as noticias são do dia anterior, ou seja, visualmente estou sempre com um delay de um dia. Capas dos jornais e a meteorologia cativam sempre a minha atenção, mas neste dia, a Nigéria fez-me parar de comer. Então não é que naquele país africano  é crime ser homossexual e são proibidas instituições que ajudam doentes com HIV. Por momentos pensei que tivesse no séc XVIII. Desperta querida África.

Depois desta paragem segui com as minhas lides, vejo o meu amor, o beijo de bom dia alegra mais a minha curta manhã. Solta a frase: “nem parece que hoje é dia de bola”, ao que respondo “pois não, temos tanta coisa para fazer antes disso”…entretanto lá no espaço infantil estava ele a chamar por nós. Bem disposto acorda dizer lua, avião e carro, as ilustrações que tem no quarto. Dois minutos de brincadeira até passarmos ao ritual diário de pais para filhos. Cansa, enerva, mas faço-o com gosto, até porque hoje estarei como todos os pilares da minha vida. Família, trabalho e o meu Clube.

Estamos prontos para sair. Saímos e deixamo-lo na creche, agora vamos correr para apanhar os transportes para o trabalho. Tudo a seu tempo e a tempo. A partir de agora os fones são os meus melhores amigos. Entre musicas e programas da manhã, a rádio faz-me companhia  durante o período laboral, interrompido aos 12.h30 para o desporto da Antena1 e da bola branca às 12.45. Trabalho.

O lavouro chega ao final, mas ao contrário do normal rumo a casa e não ao estádio. Sinto que posso ajudar a todos num dia só. Não vou falhar com ninguém e é assim que acontece. O ritual da manha repete-se ao final do dia só que desta vez há mais coisas para fazer. São feitas, sem pressas. O beijo de bom dia é substituído pelo de boa noite, os adidas Phanton entram no pé. Faz frio lá fora por isso o agasalho recai sobre o casaco da Fred Perry, comprado no Stockmarket há já alguns anos, mas que este ano ganhou nova vida porque foi à costureira. Vou ao armário dos caps e escolho um para fazer pandan como o casaco. Chapéu bonito, mas esqueço-me que o tenho.


Bolachas e iogurte, não há tempo para jantar. Entro no carro faltam cinco minutos para o jogo começar. Não sei porquê, mas não tenho pressa de chegar. O jogo não é cativante, mas apesar da competição ser de menor nome há que lutar para ganhar. Como dizia o meu amigo Keng (que curiosamente tem um caso igual ao meu) “tou-me a cagar para a Taça da Liga, mas ganhem-na”. Tive sorte com o lugar, saio do carro e ouço ao longe uma daquelas musicas que fazem acelerar o coração e essa foi a única altura em que corri. Chego ao meu lugar e vejo que estão decorridos 5m.46s de jogo. Bem a tempo de estar onde gosto de estar com que eu gosto. Pouca gente, mas boa gente. Como no passado. Ganhámos. Dia de semana, frio e chuva. Não falhei com ninguém. Fui marido, fui pai e fui adepto.

Assim sou feliz.

12 comentários :

  1. Coincidência
    O "gajo" ontem fazia anos e também andou com o casaco

    Cheers

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  2. Bom texto.. vida é assim por aqui também ... gosto da parte dos pilares :) só lhe adicionava os amigos sem duvida os verdadeiros amigos!

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  3. E o sentimento é também ele tão diferente, mas simultaneamente tão igual.
    Tanto na família como com os amigos chateamo-nos, e se não é no mesmo dia é no dia seguinte que nos perdoamos e a vida segue porque chegamos à conclusão que não podemos viver uns sem os outros.
    Com o clube é igual, e esse sentimento de paixão por vezes leva-nos ao desespero quando as coisas correm menos bem.
    De qualquer forma, por vezes parece que quantas mais contrariedades maior o sentimento, o verdadeiro, não o fugaz.
    Poder-se-á chamar de amor.
    E esse é o sentimento...

    Obrigado por partilhares os teus!
    Cumps

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    1. É bom saber que do outro lado há quem leia, goste, comente e sinta o mesmo.

      Cheers.

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  4. O que achaste da malta do Leixões nesse jogo?

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    1. Boa deslocação para o dia que foi. Alguma atividade. Boa atitude com a frase, apesar de não ser muito visível e passou despercebida a muita gente.

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  5. Arrisco em dizer que arranjaste estacionamento com facilidade porque estavam menos de 10mil pessoas no estádio! ehehe

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  6. Texto muito fixe, bem ilustrativo de um dia de bola sem descurar a atenção à família e trabalho..
    Assim é a rotina da Classe Trabalhadora.. Vida Simples, Luta Dura.
    Cumps!

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    1. Working class life
      Working class clothes
      Working classs game

      Love it

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